Foto: Bruno Eduardo
Por Bruno Eduardo
Um detalhado pano de fundo com vitrais retratando figuras demoníacas, muita fumaça e um aroma distinto - provocado por incensos - transformaram o Imperator numa enorme igreja satânica. Independente de sua religião, uma coisa é certa: é diferente de tudo que você possa ter testemunhado um dia. Tal experiência é representada em maior grau pela figura central da banda, que está vestido com sua roupa cardeal e uma máscara de caveira incrivelmente realista. O Papa Emeritus II não traz apenas a figura do mal em si, ele é extremamente carismático. Sua presença fantasmagórica e sombria carrega todos os olhares. Por ser quase imóvel no palco, seus gestos são acompanhados com atenção e seus pedidos devidamente atendidos pelos "fiéis".
Não é de hoje que mundo do rock cai de joelhos para artistas com tendências à performances teatrais. Muitos irão lembrar de Alice Cooper, até mesmo de Iron Maiden, GWAR e Slipknot. Porém, a maior lição que esses shows possam deixar em nossas vidas é que tudo não passa de uma grande fantasia. Mesmo que Ghost toque num tema considerado inviolável, não há motivo para se levar a sério. Basta olhar ao redor: há crianças de 8 anos no meio do público; há mulheres arrumadinhas também. E todos gritam "Satanás! Satanás!". Soa mais como uma piada pronta do que uma afronta a catolicidade. Mesmo assim, é um ótimo show de rock.
Após a fraca apresentação no Rock in Rio, o Ghost comprovou que sua "missa" funciona melhor em pequenos santuários. O som do grupo que parecia insosso na Cidade do Rock, ganhou força, soando mais pesado do que aparece nas gravações. A cerimônia começou com "Infestissumam / Per Aspera ad Inferi", suficiente para fazer ecoar as primeiras cantorias gregorianas no reformado Imperator. Embora seja um show para o público headbanger - basta ver as camisas de Iron Maiden espalhadas pelo local - o Ghost sabe sair do peso com desenvoltura. Eles utilizam teclados oitentistas e samples de forma precisa. Um bom exemplo dessa sonoridade estereotipada da banda é a música "Ritual", que começa com uma guitarra dançante e termina com um baixo ultra-pesado.
O momento mais curioso da noite foi quando o grupo apresentou suas releituras para os Beatles ("Here Comes The Sun") e para Roky Erickson - em uma excelente versão para "If You Have Ghosts". Mas tudo voltou ao normal, e o show terminou ao som de 'Monstrance Clocks' - que traz um refrão apropriadíssimo à ocasião: "vamos juntos para os filhos de Lúcifer", cantavam todos. Após uma hora e meia de comunhão, o Ghost enfim conseguiu passar a sua mensagem ao público do Rio de Janeiro. Quem entendeu a piada, curtiu. Showzaço!
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