"Crystal Fairy"
Ipecac Recordings; 2017
Por Luciano Cirne
Quando membros de conjuntos consagrados se juntam e formam o que nós no jargão jornalístico costumamos chamar de "supergrupo", quase sempre a satisfação é garantida. Bons exemplos não faltam: Them Crooked Vultures, Oysterhead, Audioslave, Velvet Revolver, One Day As A Lion e etc. A lista é realmente extensa. O bom, é que agora podemos acrescentar também o Crystal Fairy nessa.
Assim que surgiram os primeiro rumores que gente com um currículo acima de qualquer suspeita como Buzz Osbourne e Dale Crover (guitarra e bateria do Melvins), Omar Rodriguez-Lopez (At The Drive-In, Mars Volta) e a vocalista da banda mexicana ainda pouco conhecida por aqui Le Butcherettes, Teri Gender Bender estavam reunidos em estúdio para gravar um disco, já dava para imaginar que viria algo bom por aí; o que não imaginava era que seria tão bom e talvez, desde já, sério candidato à lista dos melhores de 2017.
De todos os envolvidos, somente o Melvins remete - ainda que apenas em momentos esporádicos - à praia do Crystal Fairy, como no caso da faixa-título com sua pegada a la Black Sabbath, ou das lentas e pesadas "Drugs On The Bus" e "Under Trouble" (que parecem ter saído do lado b do clássico disco do Black Flag, "My War"). Mas o que predomina na maior parte do tempo é um rock rasgado, sujo e sobretudo direto (tirando a já citada "Under Trouble", nenhuma canção tem mais de 4 minutos), como se fosse um amálgama entre o punk oitentista e tudo que foi produzido de melhor no cenário alternativo dos anos 1990. Prova disso são as violentas faixas de abertura "Chiseler", cujos riffs se assemelham muito aos dos primeiros trabalhos do Queens Of The Stone Age e a de encerramento "Vampire X-Mas", trilha sonora ideal para uma session de skate. Há também espaço para algumas esquisitices que dão um charme todo especial ao álbum, como o cover da bizarra e obscura banda hardcore californiana Tales of Terror ("Posesión") e "Bent Teeth", que soa como uma versão porrada do Jane's Addiction, além da curiosa "Secret Agent Rat", a única cantada na língua nativa da vocalista.
O Crystal Fairy não é uma banda de fácil assimilação, mas convenhamos: quem espera algo dentro dos padrões quando temos dois integrantes do Melvins envolvidos na jogada? E vamos combinar também que num cenário musical cada vez mais insosso e saturado de gente soando rigorosamente igual, ver que ainda tem quem esteja disposto a nadar contra a corrente é sempre bem-vindo. É um conjunto de gente calejada, com um bom tempo de estrada na bagagem, mas que mantém intactos a energia e o tesão pelo que fazem, e isso transparece a cada segundo. Não se prenda a rótulos e deixe para lá essa coisa de "supergrupo"; caia dentro desse disco pelo que ele realmente é, uma joia esporrenta e brutal que precisa ser descoberta!
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