segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Discos: Drenna (Desconectar)

Foto: Divulgação
Drenna sugere desconexão em disco cheio de refrões
DRENNA
"Desconectar"
Toca Discos; 2016
Por Bruno Eduardo

"Quanto custa desconectar?". Tal questionamento pode soar contraditório nos dias de hoje, onde bandas de rock estão cada vez mais distribuídas em plataformas digitais e vivem de fã-clubes virtuais espalhados em todas as redes sociais. No entanto, temos que colocar a faca no próprio peito para debater esta, que é uma das principais patologias de nossa sociedade. É aí meus amigos, que entra o tal do rock and roll, não é verdade?

Em 'Desconectar', a Drenna traz o vício na internet como tema principal. É só dar uma olhada na belíssima arte de capa do disco, que retrata uma sociedade sufocada por dispositivos eletrônicos e cada vez mais distanciada do mundo real. Mas diferente da maioria dos disco temáticos, 'Desconectar' não soa demasiadamente pretensioso e nem fica girando de forma exaustiva em cima desse roteiro. A banda carioca traz a musicalidade em primeiro plano e sugere um rock permeado por boas ideias e muito bem desenvolvido na parte instrumental.  

Cercada de guitarras espaciais e viradas de bateria à-la Dave Grohl, a faixa-título, que abre o disco, é uma espécie de poesia-reflexiva sobre a nossa dificuldade real de nos desligarmos. O riff é hipnótico e a voz de Drenna soa como um termômetro para a canção - é suave, contemplativa e agressiva. Com a adição de um maravilhoso refrão, a faixa seguinte, "Alívio", segue na mesma estadia sonora, de efeitos, batidas particulares e melodia grudante. A poesia também rola solta. Atente ao verso: "Entre o sim e o não, me perco no horizonte da contradição / onde o medo e a coragem dão as mãos", medita a cantora. Rock dos bons, "Anônimo", volta a falar mais explicitamente sobre o tema do disco e critica quem vive a fantasiosa vida das redes sociais por trás de uma identidade secreta. É uma pedrada sonora de três minutos com baixo nervoso e ótimas intercessões melódicas. O refrão é impetuoso, onde Drenna ordena: "Pare seu mundo por um segundo e cante para quem puder te ouvir!". 

De todas as onze faixas presentes no álbum, "Entorpecer" é a que melhor representa o rock alternativo da Drenna. Sonoramente, a faixa lembra muito Cage The Elephant (fase inicial), mas é o refrão - mais uma vez - que se destaca. É bom deixar registrado que 'Desconectar' é um disco permeado de refrões poderosos, o que deixa a maioria das músicas potencialmente comerciais. Há também um lado mais tranquilo, que aparece entre violões e tambores ("Navego") e nas ondas de um pop rock batido ("Andar Sozinho"). "Hoje Somos Um Só" também passeia de mãos dadas com leveza, só que cercada de boas melodias. A banda ainda se aventura em novas experimentações sonoras, chegando ao ápice na improvável "Odisseia". No final, o rock volta a comer solto na rasgada "Sabotagem" (que possui o único solo de guitarra do disco) e nos efeitos de "Retorno".

Com vários grandes festivais no currículo, a Drenna comprova pela primeira vez no estúdio o porquê de ser considerada um dos principais expoentes da nova cena. Em 'Desconectar', o grupo carioca acerta na mensagem e brinda o ouvinte com rock feito na medida para arenas de todos os tamanhos. 

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