terça-feira, 14 de março de 2017

Discos: Greg Graffin (Millport)

Foto: Divulgação
O vocalista do Bad Religion vai além do punk em seu novo disco
GREG GRAFFIN
"Millport"
Anti Records; 2017
Por Luciano Cirne


Todo roqueiro que se preze conhece o Bad Religion e, mesmo que não tenha o mínimo apreço por punk rock, reconhece a importância da banda. O que só os fãs e algumas almas mais antenadas sabem é que o vocalista Greg Graffin é uma pessoa, digamos assim... Singular no cenário. Além de ter phD em paleontologia e lecionar numa conceituada faculdade americana quando não está em turnê, é escritor, multi-instrumentista (toca muito bem guitarra, gaita, bateria, banjo e piano) e tem um leque de influências musicais muito maior do que o seu conjunto o permite transparecer: Quando escrevi aqui mesmo no ROCKONBOARD sobre o incompreendido álbum 'Into The Unknown' (se ficou curioso para ler, clique AQUI), mostrei o quanto Greg amava rock progressivo. Já em seus trabalhos solos ele mostra outras facetas, de raízes fortemente fincadas no country, folk e no rock setentista de bandas como o Eagles e o Farm.

Em 'Millport', seu terceiro trabalho solo - que curiosamente, não sei se de forma proposital ou não, foram lançados em intervalos regulares de 10 em dez 10 anos, o primeiro sob a alcunha de 'American Lesson' - Greg juntou uma turma de respeito para apoiá-lo: além de o velho amigo que o acompanha desde os primórdios do Bad Religion, Brett Gurewitz (e que ainda por cima é dono da Anti, gravadora pela qual o disco foi lançado), participam ainda o baixista e o guitarrista do Social Distortion (Brent Harding e Jonny Wickersham, respectivamente) e o baterista David Hidalgo Jr., que entre outros já tocou com o CJ Ramone e o Los Lobos. O resultado de tanta gente calejada junta foi um trabalho lindíssimo de letras fortes e inteligentes e, principalmente, de um cuidado com os arranjos cada vez mais raro. 

O primeiro single "Lincoln's Funeral Train" (cover do bardo folk Norman Blake) talvez cause uma primeira impressão errada por ser a mais triste do álbum, porém momentos como esse são raros e eventuais. O que predomina é um country/folk ensolarado, como as faixas "Sawmill", "Too Many Virtues" e "Echo On The Hill" atestam. Além disso temos pequenas pérolas como "Making Time", a melhor do disco, que parece sobra de estúdio do já citado Eagles; "Backroads Of My Mind", com seus violões repletos de slides;  "Time of Need", de fortíssima influência Gospel (bem entendido, ok? Não o que o povo aqui no Brasil rotula como tal!) e a bela canção que encerra os trabalhos com chave de ouro "Waxwings", que parece ter sido roubada do repertório do Black Crowes.

Ao final dos seus 31 minutos, uma dúvida vem à mente: será que alguma boa alma poderia fazer o favor de enviar uma cópia de 'Millport' para nossas insípidas duplas sertanejas?? Melhor ainda, será que alguém poderia trancar todo esse povo num quarto e forçá-los a ouvir este disco até não aguentarem mais?? Quem sabe assim dessa maneira eles finalmente aprendem que dá pra fazer um country com uma pegada diferente, melodias mais ricas e principalmente letras que fogem dessa lenga-lenga de dor de corno / festa?

Greg Graffin acertou na mosca e fez um discaço, que pode ser curtido tanto pela turma de meia idade que parou nos anos 1970, quanto para punks de mente aberta que já conhecem o trabalho do Bad Religion e sabem o quanto seu vocalista é uma figura eloquente. Recomendadíssimo e presença certa na lista dos melhores de 2017!

6 comentários:

  1. Parabéns pela matéria e mttt obrigado pela informação deste mestre.

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  2. Eu tava lá no show em Los Angeles dia 07/marco e conheci ele, Brett e o Jamie. Foi coisa linda!!! Depois ele "lançou" o cd um dia após em um show que, se soubesse antes, também teria ido. Foi bem foda!

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  3. Respostas
    1. GRAAANDE Generval! Legal te ver aqui! Obrigado por prestigiar o site e por ter prestigiado meu review! Abração!

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