"Millport"
Anti Records; 2017
Por Luciano Cirne
Todo roqueiro que se preze conhece o Bad Religion e, mesmo que não tenha o mínimo apreço por punk rock, reconhece a importância da banda. O que só os fãs e algumas almas mais antenadas sabem é que o vocalista Greg Graffin é uma pessoa, digamos assim... Singular no cenário. Além de ter phD em paleontologia e lecionar numa conceituada faculdade americana quando não está em turnê, é escritor, multi-instrumentista (toca muito bem guitarra, gaita, bateria, banjo e piano) e tem um leque de influências musicais muito maior do que o seu conjunto o permite transparecer: Quando escrevi aqui mesmo no ROCKONBOARD sobre o incompreendido álbum 'Into The Unknown' (se ficou curioso para ler, clique AQUI), mostrei o quanto Greg amava rock progressivo. Já em seus trabalhos solos ele mostra outras facetas, de raízes fortemente fincadas no country, folk e no rock setentista de bandas como o Eagles e o Farm.
Em 'Millport', seu terceiro trabalho solo - que curiosamente, não sei se de forma proposital ou não, foram lançados em intervalos regulares de 10 em dez 10 anos, o primeiro sob a alcunha de 'American Lesson' - Greg juntou uma turma de respeito para apoiá-lo: além de o velho amigo que o acompanha desde os primórdios do Bad Religion, Brett Gurewitz (e que ainda por cima é dono da Anti, gravadora pela qual o disco foi lançado), participam ainda o baixista e o guitarrista do Social Distortion (Brent Harding e Jonny Wickersham, respectivamente) e o baterista David Hidalgo Jr., que entre outros já tocou com o CJ Ramone e o Los Lobos. O resultado de tanta gente calejada junta foi um trabalho lindíssimo de letras fortes e inteligentes e, principalmente, de um cuidado com os arranjos cada vez mais raro.
O primeiro single "Lincoln's Funeral Train" (cover do bardo folk Norman Blake) talvez cause uma primeira impressão errada por ser a mais triste do álbum, porém momentos como esse são raros e eventuais. O que predomina é um country/folk ensolarado, como as faixas "Sawmill", "Too Many Virtues" e "Echo On The Hill" atestam. Além disso temos pequenas pérolas como "Making Time", a melhor do disco, que parece sobra de estúdio do já citado Eagles; "Backroads Of My Mind", com seus violões repletos de slides; "Time of Need", de fortíssima influência Gospel (bem entendido, ok? Não o que o povo aqui no Brasil rotula como tal!) e a bela canção que encerra os trabalhos com chave de ouro "Waxwings", que parece ter sido roubada do repertório do Black Crowes.
Ao final dos seus 31 minutos, uma dúvida vem à mente: será que alguma boa alma poderia fazer o favor de enviar uma cópia de 'Millport' para nossas insípidas duplas sertanejas?? Melhor ainda, será que alguém poderia trancar todo esse povo num quarto e forçá-los a ouvir este disco até não aguentarem mais?? Quem sabe assim dessa maneira eles finalmente aprendem que dá pra fazer um country com uma pegada diferente, melodias mais ricas e principalmente letras que fogem dessa lenga-lenga de dor de corno / festa?
Greg Graffin acertou na mosca e fez um discaço, que pode ser curtido tanto pela turma de meia idade que parou nos anos 1970, quanto para punks de mente aberta que já conhecem o trabalho do Bad Religion e sabem o quanto seu vocalista é uma figura eloquente. Recomendadíssimo e presença certa na lista dos melhores de 2017!
terça-feira, 14 de março de 2017
Discos: Greg Graffin (Millport)
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Resenhas
Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.
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Parabéns pela matéria e mttt obrigado pela informação deste mestre.
ResponderExcluirGraffin is God
ResponderExcluirGraffin for President
ResponderExcluirEu tava lá no show em Los Angeles dia 07/marco e conheci ele, Brett e o Jamie. Foi coisa linda!!! Depois ele "lançou" o cd um dia após em um show que, se soubesse antes, também teria ido. Foi bem foda!
ResponderExcluirDisco do ano, até o momento.
ResponderExcluirGRAAANDE Generval! Legal te ver aqui! Obrigado por prestigiar o site e por ter prestigiado meu review! Abração!
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