domingo, 3 de agosto de 2014

Ratos de Porão + Dead Fish + Test [Circo Voador]

Fotos: Bruno Eduardo

Por Bruno Eduardo


A festinha particular de cinco anos da A Grande Roubadas Produções trouxe a dupla Ratos de Porão e Dead Fish ao Circo Voador neste sábado. 


Antes porém, o duo de grindcore paulistano, Test, atraiu a atenção do público com uma destacada apresentação. Formado por João Kombi e Thiago Barata, o Test reproduz o mesmo modelo de palco que consagrou o The White Stripes - um baterista e um vocalista/guitarrista. A semelhança porém, termina por aí. O som dos caras é datado em riffs de death metal tradicional com ritmos sincopados - o que faz lembrar um pouco o Fantômas - projeto de Mike Patton com Dave Lombardo. Apresentando músicas dos elogiados "Carne Humana" (2011) e Árabe Macabre, eles entorpeceram os ouvidos dos presentes com altos decibéis. Para quem possa não saber, o Test ficou conhecido por tocar na porta de grandes shows e viver por aí com os equipamentos dentro de uma Kombi - fazendo pit stops barulhentos. Enquanto a Kombi não estaciona na esquina da sua rua, fique atento ao split Otomanos. O disco é um lançamento conjunto do Test com o D.E.R. - a outra banda do excelente baterista Thiago Barata.




Impossível ver o Dead Fish no palco do Circo Voador sem vir a tona lembranças do show que deu origem ao DVD de 20 anos do grupo. Com um repertório na unha, o grupo - mais uma vez - incendiou a lona do Circo Voador. 




Iniciando com duas músicas do emblemático Zero e Um ("Siga" e "Sonhos Colonizados"), o Dead Fish meteu o pé na porta e mostrou que ainda é uma das bandas mais legais para se ver ao vivo. Com recorde de saltos na noite, o carismático Rodrigo Lima era o maior exemplo da sintonia entre público-banda. "Vamos lançar o nosso disco em breve. Primeiro temos que resolver uns problemas financeiros", disse - fazendo referência ao recorde de arrecadação no crowdfunding do novo álbum. Deste, eles anunciaram "Hit Veraneio" - hardcore típico, ao estilo do grupo - e contaram ainda com a presença de Reynaldo Cruz, do Plastic Fire, na música "Tão Iguais" [foto ao lado]. Porém, os grandes momentos da noite ficaram por conta da cantoria uníssona de "Mulheres Negras" e no míssel sonoro - com a maior roda punk da noite - "Molotov".




Foi com "Conflito Violento" - do ótimo Século Sinistro - que o Ratos de Porão iniciou uma de suas melhores apresentações no Circo Voador. Tudo bem, o show de hoje não é tão simbólico quanto aquele de 2012 - onde a banda comemorou 30 anos de carreira - e muito menos fatídico como o de 1996. Mesmo assim, não deixa de ser emblemático.

"Não vamos encher o saco de vocês com músicas novas" - afirmou João Gordo logo após a terceira música. O grupo tocaria quatro, ao todo. Levando em consideração que este seria o show de lançamento do novo disco, a escolha em não tocar músicas novas contrariou alguns fãs. Mas era dia de festa! E era um show em homenagem ao humorista Fausto Fanti - falecido esta semana. "Essa música vai homenagem ao amigo que se foi. Um cara muito legal. O show é para ele!", disse Gordo, antes do grupo tocar "Morrer".  Já "Grande Bosta" foi dedicada aos que choraram com a derrota do Brasil para a Alemanha na copa do mundo 2014. O palco, que  foi invadido durante toda apresentação - fato habitual nos shows de hardcore/punk no Circo Voador - teve danças de todos os tipos, saltos ornamentais, e momento(s) único(s) de topless. 

Hinos como "Aids, Pop, Repressão", "Beber até Morrer", e a derradeira "Crise Geral", serviram apenas para evidenciar a relevância do grupo no cenário. Mesmo sendo um dos primeiros do gênero no Brasil a se aventurar no mercado estrangeiro, a importância do Ratos de Porão não é de cunho musical. Ela vai além dos acordes de Jão ou da berraria de Gordo. A obra da banda resgata uma época perdida, em que as bandas se dedicavam à conquista da liberdade de expressão - fazendo protesto honesto, audaz e inteligente. Então não é exagero afirmar que um show do grupo nos dias de hoje - em momento tão difuso entre democracia e limite de direitos - represente o lado genuíno do rock nacional. Sim, foi uma noite histórica!  Mas o que você esperava de uma festinha de aniversário da A Grande Roubada Produções?

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