Soundgarden na época do disco "Superunknown", lançado em 1994 |
Uma coisa é certa: não fossem os caminhos percorridos pelo Nirvana, provavelmente o grunge ficaria nos arquivos como um nicho incrível de bandas independentes que não prosperaram mundialmente. Mas isso não é tudo. Antes de Kurt Cobain quebrar o mundo no meio, tinha mais gente trabalhando para prosperidade da cena, e é aí que entra o nosso homenageado do texto.
A história que todo mundo conhece, é que com exceção de alguns nomes igualmente necessários (como Mudhoney, Melvins e Screaming Trees), os expoentes de Seattle saíram dos becos e apoiados pela MTV e encheram os bolsos de cifras, tornando-se os principais representantes do rock 90. O sucesso foi tão impactante, que de uma forma totalmente obscura, ajudou a deteriorar a tal inocência juvenil que pontuava um dos movimentos mais importantes que o mundo do rock viu surgir um dia. Toda essa história está devidamente esmiuçada de forma sublime no Documentário Hype (quem não assistiu, que faça logo!). Ainda nos anos noventa, a luz dos holofotes sobre Seattle foi tão forte que muitos não seguraram a onda, e consequentemente sofremos três perdas irreparáveis para a biografia da cena (o próprio Kurt Cobain, Layne Staley, e o precoce Andrew Wood).
Só que para sentido histórico e de tributo necessário, precisamos falar de um dos álbuns mais bem sucedidos do grunge: Superunknown, do quarteto Soundgarden. É impossível olhar para este disco hoje em dia (ainda mais depois de tantas baixas) e não pensar em todo caminho percorrido por outro ícone dessa geração: o cantor e guitarrista do Soundgarden, Chris Cornell. Inclusive, não seria exagero afirmar que Cornell chega a ser demasiadamente subestimado quando o assunto é a difusão deste movimento, que depois da fama mundial, levou o carimbo de "grunge". Para muitos, o grunge existiu pelas mãos de Kurt Cobain, o que não deixa de ser uma verdade também, já que em 1991 ele trouxe os olhos do mundo inteiro para a pequena e fria cidade americana ao compor o petardo 'Nevermind'.
Mesmo sem o carisma musical de seus conterrâneos, o Soundgarden foi a primeira banda do movimento a assinar com uma gravadora de nome - isso ainda no fim dos anos oitenta. A exposição do grupo aumentou com o estouro do grunge (leia-se Nirvana), e 'Badmotorfinger', lançado no fatídico ano de 1991, levou a banda para a MTV. Por justiça do destino, o Soundgarden se tornou realmente grande com o lançamento de Superunknown, e Chris Cornell alcançou a fama merecida de rockstar pop com três anos de atraso (depois de Vedder, inclusive).
De amigo particular a padrinho do grunge
Analisando a história do grunge de forma a pontuar momentos significativos, podemos dizer que Cornell foi uma das figuras que mais disseminou a cena de Seattle (mais do que Cobain, por exemplo). Antes de o sucesso bater à porta, ele era companheiro de quarto e principal influência do carismático vocalista do Mother Love Bone, Andrew Wood. Após a morte de Wood, vítima de overdose, Cornell decidiu juntar os ex-integrantes da banda e montou um projeto para homenagear o amigo. Esse projeto, batizado de Temple Of The Dog, apresentou o vocalista Eddie Vedder ao mundo, e consequentemente "formou" o Pearl Jam. A importância de Cornell na história do Pearl Jam (a banda mais rentável do grunge até os dias de hoje), é outro caso à parte. Na época, ele já era um músico conhecido no mundo do rock e o Soundgarden tirava do bolso o também fundamental, 'Badmotorfinger'. Mesmo assim, Chris apadrinhou Vedder e deu força aos demais integrantes para que o PJ seguisse em frente. A história que pouca gente conhece, é que Eddie Vedder, por vir de outra cidade, sofreu uma espécie de preconceito do público e das bandas locais, e foi devidamente resguardado por Cornell, que adotou o vocalista como seu novo amigo de quarto, e manteve amizade até os últimos dias de sua vida. A ligação entre as duas bandas ficou ainda mais explícita com a ida do baterista Matt Cameron para o Pearl Jam após o Soundgarden se dissipar em 1998.
O ápice popular em 'Superunkown'
Embora o super hit "Black Hole Sun" seja uma música de melodia pop, o disco 'Superunknown' não é. Aliás, ele passa longe de ser. Com excessão das ótimas levadas particulares de "Fell On Black Days" e "Day I Tried To Live", o álbum contém toda obscuridade dos antigos trabalhos só que lapidados de forma sublime. Talvez ele seja menos agressivo que seu antecessor, mas é um álbum que mantém as raízes "sabbathicas" - com guitarras esparsas e letras misteriosas. Além de "Black Hole Sun", a música "Spoonman" também rendeu um Grammy ao grupo, o que ajudou na popularidade de 'Superunknown', certificado cinco vezes por disco platina. A importância deste disco para o grunge, é que ele pode ser considerado o último golpe sublime desse movimento, que deteriorava-se de forma tão avassaladora quanto a sua chegada ao topo do planeta. 'Superunknown' é o último grande sucesso do embrião grunge no mainstream - principalmente na MTV - e sua importância segue fixa na pele de quem respirou rock no idos dos anos noventa.
Bruno Eduardo, 38 anos, jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa Arariboia Rock News nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Como crítico cultural, foi Editor-chefe e colaborador do Portal Rock Press, e colunista do blog "Discoteca Básica" da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas oficiais de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Abril Pro Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Faith No More, The Offspring e Titãs.
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