terça-feira, 3 de maio de 2016

Discos: Kaada / Patton (Bacteria Cult)

Foto: Divulgação
Mike Patton (Faith No More) e o compositor norueguês John Kaada
KAADA / PATTON
"Bacteria Cult"
Ipecac Recordings; 2016
Por Bruno Eduardo


John Kaada já produziu uma gama de álbuns ecléticos. Ele é certamente um dos compositores noruegueses mais requisitados no mundo das trilhas sonoras. Entre vários trabalhos solos e algumas improvisações, há também uma destacada parceria com o multi-talentoso Mike Patton. Patton, por sua vez, não precisa de grandes apresentações - principalmente para os fãs de rock, que cresceram ouvindo o som do Faith No More. No entanto, com o fim do FNM em 1998 (a banda voltou em 2009), o cantor se meteu com artistas de todos os segmentos e colecionou uma lista enorme de projetos experimentais e parcerias das mais improváveis. Numa de suas mais bem sucedidas aventuras, surgiu esse encontro com o compositor norueguês. 

A primeira colaboração entre estes dois talentos da música contemporânea aconteceu em 2004 com o lançamento de "Romances" - uma peça clássica que tinha pouca semelhança com qualquer outra coisa que Patton tinha se "metido a fazer" - talvez, com exceção de "Director's Cut" (uma trilha sonora heavy metal para filmes de terror/suspense, lançado pelo Fantômas). Essa parceria rendeu também um magnífico DVD ao vivo, lançado em 2007, que traz a apresentação da banda no Roskilde Festival 2005 na íntegra e cenas de ensaios e backstage.

Emparelhado com a Orquestra Sinfônica de Stavanger, Kaada criou um cenário exuberante para a voz incrivelmente versátil de Mike Patton. Poucos cantores de rock e metal na atualidade conseguem caminhar com tanto sucesso entre o punch e música clássica. A desenvoltura vocal de Patton é capaz de proporcionar um fluxo interminável de composições variadas, sem qualquer tentativa de impor sua marca ou fazer firulas desnecessárias. 

O disco abre com a assombrosa "Red Rainbow", que traz violinos e uma levada percussiva crescente. Já "Black Albino" é puro Ennio Morricone - que não por acaso, é uma das maiores referências de Mike Patton. A canção remete aos antigos filmes de velho oeste. A sinistra "Peste Bubónica" faz por capturar a energia obscura causada por um dos mais terríveis acontecimentos da história europeia. É um belo exemplo de quão impressionante a música pode ser, principalmente na tarefa de obter respostas emocionais de seus ouvintes. O medo dá lugar à delicadeza em "Papillion", que é também uma das mais fracas do disco.

"Dispossession" se baseia em composições clássicas de John Barry, que marcou inúmeros filmes de James Bond, e que também já foi lembrado pelo Faith No More no disco Angel Dust ("Midnight Cowboy"). A faixa é sutil e misteriosa, e justapõe um som de cordas com o rico barítono de Patton. O senso de humor também está presente em "A Burnt Out Case", com muito mais presença de vocais. Porém, nada resume tão bem a parceria de Kaada e Patton quanto "Imodium". A canção inclusive já rendeu o primeiro vídeo clipe do álbum [assista AQUI]. Bacteria Cult chega ao final com a grandiosa "Fountain Gasoline", que remete muito ao primeiro disco, Romances.

Em Bacteria Cult, John Kaada e Mike Patton conseguem mais uma vez repetir a bem sucedida parceria de anos atrás. Em um conjunto eclético e de extremo bom gosto, a dupla recria a mesma peça musical clássica e moderna, capaz de despertar a imaginação e os ouvidos de quem, acima de tudo, possui mente aberta para a música - independente de gênero ou modelo. É em suma, um disco para ser apreciado nos seus detalhes sonoros, e que merece ser testemunhado ao vivo em grandes salas de música no mundo inteiro.

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