terça-feira, 26 de abril de 2016

Discos: Defalla (Monstro)

Foto: Raul Krebs
Após 14 anos, Defalla volta em grande estilo com "Monstro"
DEFALLA
Monstro
Deck Disc; 2016
Por Bruno Eduardo




Foram necessários 14 anos para juntar os cacos, remendar os membros, trocar o sangue e dar uma recauchutada no visual. E não é que eles conseguiram? "Monstro", o nono disco de estúdio do Defalla, consegue a incrível façanha de reunir todas as aberrações sonoras que fizeram parte da multifacetada carreira da banda. Mesmo que o setecentismo fale mais alto em várias partes, a nova criatura transborda numa iguaria musical irrotulável, capaz de viajar nas ondas dos Mutantes e dançar nas pistas de James Brown com a mesma desenvoltura. 

Uma vinheta de quarenta e três segundos desperta o monstrengo. A faixa-título, que abre o disco, é o diário da criatura, que fala sobre os anos de reclusão e sua volta à sociedade com sede de vingança. A canção serve também como um prefácio do álbum, e dita uma certa temática a ser seguida. A sonoridade quase paralela do início se transforma num funk rock dos bons em "Zen Frankestein", resgatando um som abandonado por bandas como Red Hot Chili Peppers , Faith No More, e pelo próprio Defalla no fim dos anos noventa. Por ter sido uma das poucas bandas contemporâneas da febre funk-metal que invadiu o mundo naquela época, o Defalla mostra que não perdeu a receita em "Fruit Punch Tears In The Treasure Hunt" e "Love is For Losers", que dão o tom groove ao novo trabalho. Já a veia hard do início da carreira aparece de forma suja ("Mate-me") e polida ("Veneno"), mas segue conservada por uma harmonia sonora que surpreende até os fãs mais antigos.

O disco também é repleto de participações especiais, que ao contrário do que se vê na maioria dos casos, elas realmente soam como ingredientes necessários para a coisa funcionar. Isso acontece principalmente em "Delírios de Um Anormal", uma das melhores coisas que o grupo já produziu na carreira, e que ganha força na voz de Pitty. A faixa possui sete minutos de uma mutação bem acabada de stoner rock, psicodelia e noise - coisa fina. "Timothy Leary" é mais uma que surfa nas ondas do psicodélico, com vocais à-la Mutantes e participação de Beto Bruno (Cachorro Grande). Em "Dez Mil Vezes", o Defalla remete à Tim Maia (fase "Racional") e retoma a cartilha básica do rock gaúcho ao incluir Humberto Gessinger, dos Engenheiros do Hawaii no cardápio. O rock ácido e cheio de visões particulares, que tanto caracteriza os trabalhos de Edu K, também aparece representado na levada espacial de "Aldous Huxley" e na saudosista "Ken Kesey" - que poderia estar perdida no cultuado Kingzobullshit.

"Monstro", que demorou quase cinco anos para ser finalizado, é muito mais do que uma volta da formação clássica do grupo. Ele é um resultado brusco e igualmente sublime do que o tempo é capaz de fazer quando ainda há sinergia artística e instinto apurado entre os integrantes. Valeu a pena esperar tanto tempo.

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