Foto: Vitalogy / Pearl Jam
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Adorado pelos fãs, o terceiro disco do Pearl Jam trouxe intimismo ao cardápio |
Quando Vitalogy foi lançado, Eddie Vedder passava por mais uma fase de mudança. Estava chegando aos 30, tentava entender sua família, o universo em que estava inserido e a si mesmo. Depois do sucesso que foi Ten (1991), primeiro disco do Pearl Jam, e de Vs no ano anterior, Vedder tinha muitos holofotes apontados para ele.
E não somente Vitalogy era um álbum estranho no meio do movimento grunge – agressivo, mas triste, sem os arroubos sonoros de Ten – como a banda decidiu que não faria nenhum clipe para ajudar a divulgá-lo, uma decisão anticomercial tomada também no lançamento de Vs. Era 1994 e a MTV lançava tendências e bandas por meio da tevê. Ah, e também estava correndo o processo da banda contra a Ticketmaster, sob alegação de que a companhia não permitia que o Pearl Jam comercializasse as entradas para seus shows a preços mais acessíveis. Eram confusões demais para uma banda.
Quando o repórter da Spin perguntou como os caras da banda se relacionavam com ele, Vedder respondeu: “Eles não têm muita certeza das coisas que passam na minha cabeça”. Naquele momento, Vedder, que era só um surfista de San Diego que virou um astro do rock da cena de Seattle, estava tentando ainda lidar com a fama e com tudo o que veio dela.
Em meio ao sucesso, era um tempo de dificuldades para a banda. Os integrantes brigavam entre si, principalmente quando Stone Gossard, o guitarrista, deixou de intermediar os conflitos e até pensou em cair fora. Disseram que 80% das músicas foram escritas minutos antes de entrarem no estúdio. O outro guitarrista, Mike McCready, precisou ser internado por abuso de álcool e cocaína. Com tudo isso em mente, fica mais fácil ouvir e entender Vitalogy.
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Pearl Jam nos ano noventa, época de "Vitalogy" |
“Quando o disco saiu, os fãs do Pearl Jam se assustaram”, diz Álvaro Mesquita, músico, professor de música, compositor e fã da banda. “O Ten já mostrava um lado depressivo do grupo, mas ‘Black’, por exemplo, tinha refrão e final épicos. O Vitalogy não é assim”, ele aponta.
“Fugiram do ‘esquema guitar hero’ de outras bandas da época, deixaram a música mais intimista, uma característica que o grunge resgatou”, diz Álvaro. Ele acredita que o vinil em si é uma plataforma que evoca maior intimidade com a música, por isso o disco vendeu tão bem nesse formato. O vinil de Vitalogy foi lançado em novembro de 1994. Vendeu 34 mil cópias só na primeira semana. Permaneceu o recordista de vendas na primeira semana por 20 anos. Foi superado somente agora, com o vinil modernoso de Lazaretto, do Jack White.
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Em alto volume: vinil de Vitalogy na agulha |
Álvaro diz que a evolução pessoal e profissional do Pearl Jam seguiu um caminho bem diferente do caminho trilhado por outras bandas grunge da época. “Eles cresceram, amadureceram e viraram homens preocupados com causas sociais. Evoluíram musicalmente também. O Vitalogy é um dos melhores álbuns do grunge. Vinte anos depois, minha banda toca ‘Betterman’ e muita gente canta junto. Organizei um festival em 2013 e essa música também estava no repertório”, ele diz. Álvaro é guitarrista das bandas Rotor e Revolution ASAP atualmente.
Há um link entre o ontem e hoje. Analisando musicalmente o disco, Álvaro diz que “Spin The Black Circle”, a segunda faixa porrada de Vitalogy é “praticamente a mesma composição” que “Mind Your Manners”, presente em Lightning Bolt, disco que o Pearl Jam lançou em 2013.
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