sexta-feira, 19 de maio de 2017

Linkin Park abandona guitarras e soa quase irreconhecível em 'One More Light'

Foto: Divulgação
Linkin Park apostou no pop comercial em seu novo disco, 'One More Light'
LINKIN PARK
"One More Light"
Warner Bros Records; 2017
Por Bruno Eduardo


Quando falamos de Linkin Park, a primeira coisa que vem à cabeça é o som fundido de guitarras pesadas, pianos e vocais rap que conquistou o planeta nos megahits "In The End", "Crawling" e "Faint". No entanto, quem acompanha a banda de perto sabe que eles não se prendem muito a um estilo e costumam se arriscar em outras trincheiras - do eletrônico ao hip hop. Ainda assim, é bom adiantar que 'One More Light' não reserva nada daquela banda visceral que você conheceu um dia. 

Em entrevista exclusiva ao Rock On Board, o guitarrista Brad Delson já tinha antecipado que o novo disco seguiria um caminho diferente do que estávamos acostumados, e, que ele seria um reflexo do que é a banda nos dias de hoje. Aliás, o Linkin Park sempre gostou de sugerir novas direções musicais ao mercado e nunca decepcionou nas vendas, o que garante ainda mais essa moral de fazer o que der na telha. Só que diferentemente do que fizeram em 'A Thousand Suns' (2010) - esse sim, um disco arriscado, pela sonoridade quase experimental - a banda resolveu abandonar as guitarras para fincar sua bandeira no pop mercadológico, incluindo no pacote alguns convidados "escolhidos a dedo", como a cantora Kiiara e dois nomes do rap e hip hop da atualidade, Pusha T e Stormzy. 

No entanto, sem desmerecer a qualidade inquestionável do grupo em produzir boas canções pop, a impressão que fica ao ouvir este álbum é que eles poderiam ser facilmente confundidos com qualquer um desses artistas que invadem o mercado da música com suas canções feitas apenas para entrar nas programações comerciais. Tanto que para escrever "Heavy", eles se juntaram a Justin Tranter e Julia Michaels, responsáveis ​​por singles de sucesso de artistas como Demi Lovato, Selena Gomez e Jason Derulo. Com isso, não é exagero dizer que 'One More Light' é um disco pop simplório e  que corre o risco de ser facilmente esquecido. 

"Nobody Can Save Me", que abre o disco não nega a capacidade do grupo em criar melodias realmente boas, principalmente amparado na ótima performance de Chester Bennington. O mesmo acontece em "Sorry For Now" (dessa vez com Shinoda dando as cartas). Mas o fato é que as músicas parecem todas iguais, já que não há qualquer inclusão de elementos marcantes - característica essa, que fez do Linkin Park uma peça diferenciada no monótono rock mainstream dos anos 2000. O álbum realmente carece muito da energia latente que o grupo costuma mostrar em seus shows. Não há gritos selvagens de Chester Bennington, nem os riffs graves de Brad Delson. Até o DJ Hahn desaparece sob um brilho de estúdio texturizado. O mais próximo que eles chegam do "feeling linkin park de ser" é em "Talking to Myself", comandada pela bateria viva de Rob Bourdon e que tem algumas pitadas de Brad Delson. De resto, 'One More Light' se preocupa apenas em realizar canções modelo para o topo das paradas de sucesso ("Battle Symphony" e "Invisible") e confissões sinceras ("Sorry for Now" e "Halfway Right") que acabam no fim das contas soando como um mix de The Chainsmokers com Twenty One Pilots.

Eu sei, é duro criticar uma grande banda por tentar fazer algo diferente. E antes de qualquer questionamento, o problema não é ser pop e não ser mais aquela mesma banda que se tornou fenômeno de vendas no início do século. O tempo passa e é natural - e até mesmo saudável - que o artista seja honesto com a sua obra. Ninguém quer se tornar cover de si próprio. Mas a questão aqui, é que essa nova fase não adiciona nada de importante ao legado artístico do grupo, e acaba soando como uma aventura de momento. E mesmo para aqueles que defendem o disco, por ele ser um conjunto de canções pop muito bem feitas, digo que há músicas pop muito melhores em outros discos do Linkin Park. Faltou o algo mais.

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