sexta-feira, 17 de outubro de 2014

DISCOS: SLIPKNOT (5. The Gray Chapter)

SLIPKNOT

5. The Gray Chapter

Roadrunner Records; 2014

Por Lucas Scaliza








Entre o peso e a melodia, passagens memoráveis e vocais guturais, o quinto disco do Slipknot é uma homenagem ao ex-baixista da banda, Paul Gray - que faleceu em 2010 e comoveu grande parte do cenário heavy metal mundial. É um ótimo registro, que mantém as batidas pesadas, o timbre encorpado e grave das guitarras e a agressividade de sempre. Só que diferente de Iwoa (2001), 5. The Gray Chapter inclui mais melodia, abre mão da voz gutural para versos bem mais limpos e até sons artisticamente mais elaborados - mais ou menos na linha do que o Opeth propôs com Pale Communion (mas o Slipknot ainda é metal, enquanto o Opeth se direcionou mais para o rock progressivo no novo trabalho) ou o In Flames com o Siren Charms.

Criar um clima sombrio ou de agressividade sempre foram elementos que essa banda de Des Moines soubera fazer nos discos, nos clipes e nos shows ao vivo. As máscaras e as roupas que seus integrantes usam, ajudam na hora de causar impacto visual, na linha do que foi o Kiss e o Alice Cooper nos anos 70 (grupos cujas imagens hoje parecem brega e não assustam mais ninguém) e o Marilyn Manson nos anos 90 (e que hoje parece mais excêntrico do que exatamente aterrorizante). Independente do figurino, a música em 5. The Gray Chapter transita bem entre violência e melodia, na linha do Vol. 3 (The Subliminal Verses), lançado 10 anos atrás.

XIX”, que abre o disco, é totalmente assombrada pelos efeitos e acordes dissonantes do teclado de Craig “133” Jones e dos sintetizadores de Shawn “Clown” Crahan acompanhando a voz rascante. Ela parece que vai crescer e estourar em algum riff pesado, mas isso nunca acontece, terminando em um anticlímax. Já a faixa seguinte, “Sarcastrophe”, não tem um início épico, como seria de esperar, mas uma introdução climática que lembra algumas composições do Sepultura e até mesmo um cruzamento de riffs do Dream Theater com Rammstein.

Mas não se engane: nem tudo é um crossover entre guitarras de sete cordas afinadas até dois tons abaixo e rock mais acessível. Além de “Sarcastrophe”, faixas como “Skeptic”, a sombria “Lech”, “Nomadic” (com um efeito de sintetizador que lembra um grito ao longe), “The Negative One” (pesada, só que mais do mesmo) e “Custer” são exemplos de metal para bater a cabeça com gritos e fúria, como gostam os fãs do Slipknot. São também boas composições, que demonstram a boa pegada dos novos integrantes (baixista e baterista) - que não tiveram suas identidades reveladas e aparecem com máscaras bem parecidas com as usadas pelos ex-membros no vídeo de “The Devil in I”.

Embora tentem soar assombrosos, o Slipknot consegue apenas reproduzir um clima já bastante conhecido entre as bandas de industrial e nu-metal, evocando um terror mais Hollywood, mais trilha sonora. Em Once More ‘Round The Sun (2014), os metaleiros do Mastodon conseguiram expressar um terror mais ancestral e profundo [leia a resenha do disco AQUI]. O Slipknot se aproxima disso na excelente “If Rains is What You Want”, onde voltam a se preocupar mais com a atmosfera do que com a batedeira de cabeça e cabelo - os timbres de guitarra soam diferentes, mais adequado ao clima sinistro. Nessa faixa a banda atesta seu refinamento musical, já que velocidade, violência e peso estão provados há muito tempo e já não servem de elemento diferenciador.

A banda tem quase 20 anos de estrada e apenas cinco álbuns, mas grande reconhecimento entre o público metaleiro, além de reconhecimento entre a crítica especializada e outros músicos que enxergam na banda uma força não apenas criativa, mas que consegue gravar e dar vazão a músicas pesadas com letras agressivas e mensagens e imagens que geram controvérsia sem soarem falsos. As incursões por momentos mais melódicos e acessíveis não parecem uma tentativa de o Slipknot ser uma banda mais conhecida entre o público não-metaleiro ou coisa do tipo. Está claro que é uma forma de explorarem outros lados técnicos e criativos de seus músicos e tornar o repertório mais artisticamente diverso. Ainda estão muito presos ao tipo de som que sempre fizeram e repetem vários maneirismos do estilo, o que deixa espaço para muita coisa ser incluída e mesclada ao som sem perder as características originais. Mas apesar disso, é um disco longo (a versão deluxe chega a 84 minutos) e que agrada.



[Lucas Scaliza, jornalista, tem seus textos resgatados no blog Escuta Essa]

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