segunda-feira, 27 de outubro de 2014

DISCOS: NEIL YOUNG (STORYTONE)

NEIL YOUNG

Storytone

Reprise Records; 2014

Por Lucas Scaliza








Após a experiência com A Letter Home e do belo disco duplo Psychedelic Pill, cheio de solos de guitarra lançado em 2012, Neil Young volta mostrando que é um músico que vai continuar fazendo música de diferentes modos. Em Storytone, que sai em novembro, ele compôs 10 canções em parceria com o arranjador Chris Walden e chamou uma orquestra com 92 músicos para tocar com ele. Nada de guitarra, bateria, baixo elétrico, teclado e sintetizadores na maior parte das faixas. Neil Young agora tem violinos, piano, violas, baixos acústicos, cellos, trombones, tubas e mais uma grande variedade de instrumentos para dar a cara de suas músicas.

O resultado ficou muito bom e lembra o ótimo Travelogue (2002) de Joni Mitchel. A diferença é que Joni Mitchel preferiu regravar com uma orquestra várias de suas canções. Young compôs músicas inéditas mesmo.

Em “Plastic Flowers”, primeira faixa do disco, a voz aguda de Young é acompanhada por um piano doce e orquestração bastante romântica. Tema de violino ao invés de riff de guitarra. Já “Who’s Gonna Stand Up” é uma música ambientalista – Young é ativista nessa área – com contornos épicos, muito parecidos com trilhas sonoras de filmes (como O Senhor dos Aneis) ou com as orquestrações feitas por Tuomas Holopainen, do Nightwish. Nessa faixa, ele pergunta “Quem vai salvar a Terra?” e diz que “Tudo começa comigo e com você”.

Glimmer” usa a orquestra de um modo completamente diferente, emulando antigas canções do jazz americano. Ao ouvir, você se sente imediatamente assistindo a um filme em preto e branco da década de 1940. E se sentir-se assim, espere por “Say Hello to Chicago”, música gravada com uma big band. O resultado é tão nostálgico quanto o de “Glimmer”, mas animado dessa vez. “Tumbleweed”, também com a orquestra, é uma balada que ganha um ar de fantasia unindo sua letra gentil com movimentos bem suaves de toda a orquestra. “I’m Glad I Found You” é o tipo de música que facilmente podemos imaginar vestida de rock’n’roll, com um longo solo característico de Young. Mas nas mãos de Walden e de sua orquestra se transforma em balada.

When I Watch You Sleeping” mistura orquestra com um violão bem western com a gaita de Young e uma discreta percussão da bateria. “All Those Dreams” segue pelo mesmo caminho. Ambas mostra que a mistura soa muito bem no contexto do álbum, mas as orquestrações são tão suaves nas duas faixas que poderiam ter sido feitas por um bom teclado que o resultado seria praticamente o mesmo.

O blues “I Want to Drive My Car” e “Like You Used To Do” estão creditadas como músicas da banda de Neil Young, mas também estão acompanhadas por uma big band jazzista e é essa a característica que domina as gravações.

É um disco que acrescenta uma nova experiência a extensa discografia do canadense, mas não vai figurar entre os melhores e mais inspirados trabalhos do canadense. O que torna Travelogue, da Joni Mitchel, tão interessante é que as músicas dela também ficavam doces com a orquestra, mas ainda conservavam aquele toque fino e pessoal de suas composições originais. A participação da orquestra fazia a diferença na recriação e adaptação de arranjos. Apenas um grupo de ser humanos fariam aquilo tudo. O problema em Storytone é que a presença humana só é sentida com força nas faixas com big band. Muitas passagens de orquestra são ótimas, com destaque para “Who’s Gonna Stand Up”, mas muitas outras tornam o trabalho açucarado demais, sem o punch que costumamos esperar de Young e seu bando. E a orquestra, mesmo com os propalados 92 músicos, nunca soa pesada e cheia o bastante para sentirmos essa presença maciça de músicos na gravação.

Storytone também acompanha um segundo disco com suas 10 faixas sendo executadas em forma de canção somente por Young e seu violão ou piano. Faixas doces continuam doces, mas menos açucaradas nesse formato. Se você não for muito fã de balé ou de música clássica romântica, é provável que aprecie mais o disco bônus do que o disco principal.



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